sábado, 31 de dezembro de 2016

Expedição 2016 – Deserto do Atacama


Expedição 2016 – Deserto do Atacama

Sexta-feira, dia 02 de dezembro de 2016. Saí de Porto Alegre em torno das 6:15 h da manhã em direção à cidade de Santa Maria, no centro do estado do Rio Grande do Sul, ponto de encontro com o amigo Jorge para seguirmos rumo ao Deserto do Atacama, no Chile. Saindo de Porto Alegre pela avenida dos Estados, zona norte da cidade, acessei a BR 290 (Free Way) em direção ao sul até a BR 448 (Rodovia do Parque), seguindo até a BR 386 (Tabaí- Canoas), e por essa via até a RS 287, no município de Tabaí. Pela RS 287 segui até a cidade de Santa Maria, distante cerca de 300 Km de Porto Alegre. Nesse primeiro dia nosso destino é a cidade de Posadas, na Argentina.
O amigo Jorge (Honda CB 500 F) saiu de Pinheiro Machado, cidade localizada na serra do sudeste do Rio Grande do Sul, pela BR 293 até o município de Bagé, entrando na BR 153 e seguindo até a BR 392, permanecendo por essa via até Santa Maria.
Abastecemos as motos e partimos de Santa Maria pela RS 287 em direção à cidade de Porto Xavier, fronteira com a Argentina. Percorridos 150 Km, no município de Santiago, paramos novamente para abastecer as motos. Enquanto estávamos no posto de gasolina, chegou um grupo de oito motociclistas oriundos das cidades de Porto Alegre,  Esteio e Canoas, também com destino ao deserto do Atacama.    Após um tempo de confraternização, conversas e fotos, seguimos nosso caminho por mais cerca de 15 Km até o entroncamento com a RS 168. Nesse ponto se deve estar atento pois a RS 168, localizada à direita da RS 287, é uma estrada de pior pavimentação e quase pode passar despercebida. Caso siga pela RS 287 chegará na cidade de São Borja, também fronteira com a Argentina. Pela RS 168 percorremos cerca de 120 Km até a BR 392. Neste caminho se passa pela cidade de São Luiz Gonzaga, o que pode gerar uma pequena confusão no percurso. Após entrarmos na BR 392, percorremos mais 30 Km até chegarmos em Porto Xavier.
A cidade é separada da Argentina pelo rio Uruguai e a travessia se faz por uma balsa, já que não há ponte no local. A travessia é rápida e o custo (dezembro de 2016) é de R$ 15,00 por moto. O processo de imigração é simples, sendo parte feito em Porto Xavier e o restante na outra margem do rio, já na Argentina, na localidade de San Javier.
Entrando na Argentina seguimos pela RP4 por cerca de 77 Km até a RP 103. Depois, mais 7 Km até a RN 12 e 48 Km até a cidade de Posadas. Chegando em Posadas fomos em busca de um hotel. A cidade não é pequena e existem diversas opções. Ficamos hospedados no hotel Costa Azul (Av. Uruguay, 6057), bastante razoável e com bom preço (750 Pesos Argentinos ou cerca de R$ 195,00 o quarto duplo), incluindo estacionamento para as motos e café da manhã.
Posadas é a capital da província de Missiones e tem uma população e mais de 324.000 habitantes. Está localizada no nordeste da Argentina,  às margens do rio Paraná, fazendo divisa com o Paraguai onde, na margem oposta do rio, está a cidade paraguaia de Encarnación, estando  estas cidades ligadas pela ponte Internacional San Roque González de Santa Cruz. Vale à pena conhecer a Costanera, que é a avenida à beira do rio Paraná, com diversos restaurantes e uma paisagem urbana belíssima. Neste primeiro dia de viagem rodei 738 Km desde Porto Alegre até Posadas.
No dia seguinte, dia 03 de dezembro, saímos em torno das 8 horas da manhã com destino à localidade de Monte Quemado. Seguimos pela RN 12 por 316 Km até Corrientes. Em Corrientes entramos na RN 16, atravessando a cidade de Resistencia, vizinha à Corrientes. Na RN 16 em Corrientes é proibido o trânsito de motocicletas, devendo ser feito por uma via lateral. Quase não há sinalização orientando, o que fez com que percorrêssemos este trajeto pela via dos automóveis. Tivemos a sorte de não sermos autuados pela Polícia Caminera, que é o equivalente a nossa polícia rodoviária. A “Caminera”, nessa região, tem fama de ser corrupta, com frequência exigindo propinas dos veículos que ali circulam, porém esta foi minha terceira viagem de moto à Argentina e nunca fui pressionado pela polícia a pagar propinas.
Seguimos viagem pela RN 16. Esta é uma rodovia nacional com cerca de 723 Km de extensão sendo desses, cerca de 570 Km em linha reta. Durante o caminho fomos informados que em nosso destino, Monte Quemado, não teria nada de atrativo e a possibilidade de hospedagem seria muito remota. Optamos, então, ficarmos em Presidencia Roque Sáenz Peña, 267 Km antes de Monte Quemado.
Chegamos em Presidencia Roque Sáenz Peña em torno das 17 horas. Ficamos hospedados no hotel Aconcágua (Calle Azcuenaga esquina Julio A. Roca). Um bom hotel e com um preço bem barato (cerca de R$ 66,00 por pessoa em quarto duplo). A cidade está localizada na província do Chaco e tem uma população de cerca de 90.000 habitantes. Não se pode dizer que é uma cidade bonita, porém é bastante agradável. Chama a atenção o grande número de motocicletas e scooters de baixa cilindrada, invariavelmente ocupadas por mais de duas pessoas, inclusive crianças, sem uso de capacetes ou qualquer equipamento de proteção. Observamos em Sáenz Peña, assim como nas outras cidades do interior da argentina, que as ruas e praças das cidades são ocupadas, à noite, por famílias e crianças brincando, sem necessidade de preocupação maior com segurança. Neste dia rodamos 512 Km. Vale lembrar que em Presidencia Roque Sáenz Peña também não é permitido motocicletas na RN 16, devendo o deslocamento ser feito pelas vias laterais, o que também acabamos desobedecendo por desconhecermos a norma. Felizmente ali também não tivemos problemas com a Caminera.
Na manhã do terceiro dia partimos em direção a San Salvador de Jujuy, pela RN 16. No caminho reencontramos o grupo de motociclistas que havíamos conhecido dois dias antes, no posto de gasolina à beira da estrada em Santiago, os quais gentilmente nos convidaram a seguir com eles. Nesse momento não imaginávamos que estava nascendo uma nova amizade e que estaríamos juntos por quase toda viagem. Estes novos amigos são o Marcelo (BMW 1200 GS Adventure), o Cassius (HD Fat Boy), O João (HD Street Glide), o Dado (Suzuki VStrom 1000), o Alexandre (Yamaha Super Teneré 1200), o Júlio (HD Fat Boy), o Gerson (HD Ultra Glide) e o Caetano (HD Ultra Glide). Fazem parte de um grupo de motociclistas chamado Vagais, de Porto Alegre.
Continuamos pela RN 16 até a RN 9. Este trajeto são cerca de 530 Km desde Presidencia Roque Sáenz Peña. Na RN 9 acessamos à direita até a RN 34, por mais 77 Km. Continuamos pela RN 34 por mais 34 Km até a RN 66, seguindo por essa estrada por mais 43 Km até San Salvador de Jujuy, onde ficamos à noite. Nossos amigos seguiram até Purmamarca.
Em San Salvador de Jujuy ficamos no hostel Munay (calle General Alvear, 1230). Um local simples e confortável, com quarto e banheiro privativos, estacionamento, café da manhã e um atendimento muito agradável. O custo aproximado foi de 350 pesos argentinos para cada um de nós, cerca de R$ 91,00. À noite  jantamos em uma pizzaria (uma das piores pizzas que já comi) e depois caminhamos um pouco pela cidade. San Salvador de Jujuy está localizada no noroeste da Argentina e conta com uma população superior a 240.000 pessoas, sendo a capital da província de Jujuy. Está a uma altitude de 1.259 m. Neste dia rodamos 682 Km.
No dia 05 de dezembro, quarto dia de viagem, partimos em torno das 8:00 h da manhã de San Salvador de Jujuy com destino a San Pedro de Atacama. Seguimos pela RN 9 e já nos primeiros quilômetros se percebe a modificação da estrada e da paisagem. A grande cadeia de montanhas aliado às curvas da estrada enquanto se inicia a subida em direção à cordilheira, proporcionam um visual indescritível e que é apenas o início do que nos esperava até chegarmos em San Pedro de Atacama. Após 62 Km saímos da RN 9 e acessamos a RN 52, em direção oeste. Logo em seguida, a 66 Km de San Salvador de Jujuy, se chega à pequena cidade de Purmamarca na qual está programado uma noite em nosso retorno do Atacama. Continuamos subindo a Cordilheira dos Andes, no lado argentino e, à medida que a altitude vai aumentando a temperatura começa a cair de forma significativa, nos obrigando a uma parada para colocar as roupas para frio (mais uma das diversas paradas que fizemos para tirar fotografias). A subida da Cordilheira dos Andes, com diversas curvas em meio às montanhas, nos oferece uma experiência incrível e difícil de ser descrita. Em torno de 131 Km após San Salvador de Jujuy e 69 Km de Purmamarca chegamos ao salar Salinas Grandes.
O salar Salinas Grandes é um grande deserto de sal que ocupa uma área de 12.000 hectares e tem uma espessura aproximada de meio metro de sal, formado a partir de um lago que secou há milhares de anos. Estes lagos de água salgada são consequência da formação das cordilheiras do Sal e dos Andes há milhões de anos, que sequestraram água do mar entre as duas cadeias de montanhas. Na entrada do salar existe um pequeno quiosque com alguns nativos que oferecem seus serviços para um passeio guiado. Optamos por entrar no salar sem o guia, juntamente com alguns motociclistas argentinos que ali conhecemos. Para entrar é solicitado uma gorjeta pelo nativo para que ele abra a passagem. A experiência de pilotar uma motocicleta sobre a imensa salina também é algo bastante diferente. Ainda no salar encontramos nossos amigos do motogrupo Vagais que seguiram na nossa frente até nosso próximo ponto de parada, em Susques, onde combinamos nos encontrar e seguirmos juntos até San Pedro do Atacama.
Continuamos pela RN 52 atravessando o deserto por mais 136 Km até chegarmos na localidade de Susques. No local existe um restaurante chamado Pastos Chicos e uma bomba de gasolina (não dá para chamarmos de posto de gasolina) que, segundo fomos informados, nem sempre tem combustível disponível. Neste dia todos conseguimos abastecer as motos e depois fomos fazer um lanche no Pastos Chicos, acompanhado do tradicional chá de coca. Os habitantes do deserto dizem que o chá tem propriedades medicinais assim como ajuda a amenizar os efeitos causados pela altitude nos viajantes não habituados a ela. Na realidade, para mim o chá não fez qualquer diferença na falta de ar ocasionada pela altitude.
Saindo de Susques, seguimos pela RN 52 até Paso de Jama, fronteira com o Chile. Foram mais 111 Km de deserto, com as paisagens mais incríveis. O asfalto é perfeito e os únicos locais ruins estão em obras. Estrada sensacional!!! O processo de imigração entre Argentina e Chile é um pouco trabalhoso e pouco prático, fazendo com que se perca um bom tempo ali. Vale lembrar que é proibido a entrada de qualquer tipo de alimento de origem animal no Chile e as bagagens são sempre inspecionadas, embora de forma superficial. Em Paso de Jama está o último posto de gasolina antes de San Pedro de Atacama.
Após cruzarmos a fronteira entre a Argentina e o Chile seguimos pela Ruta 27 por mais 160 Km até San Pedro de Atacama. A Ruta 27 cruza o deserto com uma paisagem extremamente árida ao nosso redor e de beleza indescritível, o que faz com que a emoção tome conta de nós. O ponto mais alto, logo após a fronteira, chega a 5.300 m com o frio e o vento forte nos fazendo companhia por vário quilômetros. Quando estamos pilotando, a falta de ar causada pela altitude diminui bastante devido ao vento entrando sob a viseira do capacete porém, ao pararmos para as sessões de fotografias, este efeito se torna bastante marcante. No caminho paramos para uma sessão de fotos em frente ao vulcão Lincancabur, considerado extinto e sem precisão da data de sua última erupção. Este vulcão está localizado na divisa entre o Chile e a Bolívia e próximo à cidade de San Pedro de Atacama, de onde pode ser visto de qualquer ponto. Chegamos na cidade em torno das 19 horas.
Tanto na RN 52, na parte argentina do deserto, como na Ruta 27, na parte chilena, a qualidade de pavimentação das estradas é impecável. Isto, aliado às grandes retas e ao pouco movimento de veículos, estimula a acelerarmos nossas motos, porém é muito comum lhamas e vicunhas cruzarem a estrada, em grupos de diversos animais, o que faz com que devamos ter muito cuidado, principalmente se estivermos em alta velocidade. Pode-se considerar estes animais como o maior perigo destas estradas.
San Pedro do Atacama é uma pequena cidade chilena localizada no deserto do Atacama, na Província de El Loa, na região de Antofogasta. A cidade cresceu em torno de um oásis no altiplano atacamenho e está a uma altitude de 2.407 m. Seus primeiros habitantes foram os atacamenhos, com evidências de ocupação humana na região em torno de 6.000 AC, sendo o período de maior progresso do povo atacamenho entre os séculos V e IX. Após este período, as guerras contra os incas e, posteriormente contra os espanhóis, fizeram com que os atacamenhos abandonassem seus territórios e tivessem sua população cada vez mais reduzida. Hoje a população atacamenha conta com cerca de 21.000 pessoas que se dizem descendentes dos antigos povos atacamenhos. A população, segundo o censo de 2012, é de 3.899 pessoas, com cerca de 60% habitando a zona rural. O clima é extremamente seco, com temperaturas que chegam aos 30ºC durante o dia caindo para próximo a 0ºC à noite, nos meses de verão. No inverno pode chegar a -10ºC. As chuvas são muito raras na região devido às cordilheiras impedirem a passagem de nuvens. Em 2016 choveu por apenas seis dias.
A cidade é bastante rústica, com algumas ruas calçadas e que parece um labirinto. A rua principal, chamada Caracoles, é repleta de agências de turismo, restaurantes, algumas casas de câmbio e lojas de souvenirs, sendo a maioria de artesanatos atacamenhos. Os restaurantes da rua principal são os mais caros, alguns com valores abusivos, porém se pode comer em locais nas ruas laterais por valores bem mais baixos.
 Na praça da cidade, ao lado da igreja, está disponível uma rede Wi-Fi aberta. Pelas ruas se encontram turistas de toda parte do mundo, com uma mistura de idiomas incrível.
Existe um grande número de hospedarias.  Ficamos hospedados no Hostal Sumaj Jallpa (Calle Volcan El Taio, 703). O lugar é simples e bastante agradável, com excelente higiene, estacionamento fechado para as motos, Wi-Fi de boa qualidade e preço justo, com a disponibilidade de quartos desde individual até para seis pessoas e com banheiro privativo. Não tem café da manhã, o que resolvemos com muita facilidade em um pequeno armazém na mesma quadra do hostel. O grande diferencial fica por conta de uma funcionária de nome Maritza. Extremamente simpática e atenciosa, está sempre disponível para ajudar os hóspedes.
As principais atrações, no entanto, estão fora da cidade. São diversos lugares no deserto, que podem ser visitados com auxílio das várias agências de turismo. Deve-se estar atento pois, além do valor cobrado pelas agências para levar os turistas, ainda existe o custo adicional do ingresso ao chegar no local, o que não está incluído nos pacotes. Dependendo do lugar, este custo pode ter o mesmo valor daquele cobrado pela agência. Não vou descrever aqui os passeios disponíveis, pois existem diversos sites e blogs especializados que fazem um relato bastante completo.
Permanecemos em San Pedro de Atacama por três dias. Sentimos bastante os efeitos da altitude, com falta de ar aos esforços, o que diminuiu um pouco com o passar dos dias. Em uma manhã fomos conhecer os Geysers de Tatio, que ficam a 4.300 m  acima do nível do mar. Lá foi um dos locais que mais sofremos os efeitos da altitude, com falta de ar, náuseas e dor de cabeça, além de muito frio, pois o passeio sai de San Pedro em torno das  4:00 horas da madrugada, chegando em El Tatio antes das 6:00 h, com uma temperatura de -5º C.
Após três dias em San Pedro do Atacama, iniciamos nosso retorno. Saímos em torno das 9:00 h da manhã do dia 08 de dezembro, quinta-feira, juntamente com nossos amigos Vagais. Tentei completar o tanque da moto no único posto de gasolina que existe em San Pedro porém, devido ao frio noturno, o combustível estava congelado nas bombas, dificultando muito o abastecimento. Como estava com um galão de 5 litros de gasolina reserva e ainda tinha cerca de meio tanque restante do último abastecimento em Paso de Jama, optei por não abastecer. Consegui fazer todo o percurso de 160 Km até Paso de Jama sem utilizar a gasolina do galão de reserva e ainda sobrou combustível.
Retornamos pela mesma Ruta 27. No caminho, dentre as várias paradas para tirar fotografias, paramos na Reserva Nacional dos Flamingos, que consiste de uma área de 740 metros quadrados, onde se pode observar um grande número de flamingos. Também um local muito bonito.
Chegamos em Paso de Jama e fomos fazer a imigração para Argentina, desta vez um pouco mais simples que a entrada no Chile, embora ainda um tanto burocrático. Após, abastecemos as motos e seguimos até Susques pela RN 52 onde paramos para um lanche no restaurante Pastos Chicos, desta vez sem precisar abastecer as motos. Chamou minha atenção a grande melhora do consumo de combustível de minha moto ao utilizar gasolina argentina com 98 octanas. Estava abastecendo com a gasolina argentina de 95 octanas, chamada de Super porém, na última vez que abastecemos em Paso de Jama, não tinha mais a gasolina Super nos obrigando a um combustível de melhor qualidade. Já havia notado diferença da gasolina Super em relação à gasolina brasileira mas, com a de 98 octanas esta diferença se tornou absurda. É lamentável a política Brasileira em relação aos combustíveis utilizados em nosso país.
Continuamos pela RN 52 até Purmamarca, onde nos separamos de nossos amigos que seguiram até General Güemes. Chegamos em Purmamarca em torno das 16:00 h, com 412 Km rodados naquele dia.
Purmamarca é uma pequena cidade na subida da Cordilheira dos Andes, na Província de Jujuy, e conta com uma população em torno de 2.000 habitantes. Em 2003 foi considerada patrimônio da Humanidade, pela UNESCO. O nome vem do idioma Aymara pela união das palavras purma, que significa deserto, e mara, que significa povo. Sua origem é pré-hispânica e remonta ao século XVI. A cidade cresceu em torno da Igreja de Santa Rosa de Lima e é composta de pequenas ruas de terra vermelha. Na praça em frente à igreja tem uma grande feira de artesanato, expostos até às 19:00 h. Após o término da feira a cidade fica quase deserta, com raras pessoas pelas ruas.
A principal atração de Purmamarca é o Cerro de Los Siete Colores, que é um dos morros que cercam a região.  As cores que compõem o cerro são decorrentes da origem sedimentar das rochas, configurando um visual único e de rara beleza.
Existem diversas opções de hospedagem, com preços bastante variados. Ficamos hospedados na casa de um artista plástico chamado Diego, que disponibiliza um quarto com banheiro privativo a um custo muito baixo. Bastante simples, mas o suficiente para apenas uma noite.
Na manhã seguinte, sexta-feira dia 09 de dezembro, nosso oitavo dia de viagem, partimos cedo com destino à Presidencia Roque Sáenz Peña. Seguimos pela RN 9 até San Salvador de Jujuy onde era o primeiro local para podermos abastecer as motos, já que em Purmamarca não existe posto de gasolina. Também precisávamos trocar alguns dólares por pesos argentinos. Ao chegarmos no posto de gasolina encontramos um grupo de motociclistas argentinos que estavam de saída para uma viagem à Bolívia, com motos de baixa cilindradas e muitas delas bastante antigas e adaptadas. Nos receberam com um enorme sorriso e com a frase:  - Quero ver vocês viajarem em motos como as nossas. Em seguida veio a seguinte frase: - Nós somos os verdadeiros argentinos e não o povo de Buenos Aires.  A simpatia do grupo para conosco e a simplicidade do pessoal era contagiante.
Após abastecermos as motos fomos em busca de uma casa de câmbio. Enquanto procurávamos o local onde nos fora informado que teriam casas de câmbio, descobrimos que era feriado na Argentina e que estas lojas estariam fechadas. Por uma grande coincidência, havíamos parado para pedir informações em um posto de gasolina que, junto as suas instalações, havia o escritório de uma cooperativa de táxis e que fazem câmbio de moeda. Fizemos as contas do valor ofertado e vimos que estavam pagando bem por nossos dólares. Na hora fiquei muito desconfiado mas era minha única alternativa e resolvi arriscar. Sem problemas. Meu medo agora era que tivessem trocado meus dólares por moeda argentina falsa, o que não se configurou.
Saímos de San Salvador de Jujuy pela RN 66, depois RN 34, RN 9 e RN 16. Nossa próxima parada para abastecer foi em no posto de gasolina El Refugio, em Taco Pozo, a cerca de 180 Km de San Salvador de Jujuy, já na RN 16. Não costumamos almoçar quando estamos na estrada porém, desta vez resolvemos mudar a rotina. No local tem um restaurante no qual pedimos um bife à milanesa com batatas fritas e uma garrafa de água mineral com gás, com um custo bastante baixo.
No caminho pela RN 16 ainda encontramos novamente os amigos Vagais, cujo destino era Corrientes, seguindo juntos até Presidencia Roque Sáenz Peña onde chegamos em torno das 18:15 horas. Ficamos hospedados novamente no hotel Aconcágua, onde havíamos ficado quando estávamos a caminho do Atacama.  Relaxamos com um banho na piscina saboreando umas cervejas e, mais tarde, fomos jantar em uma parrillada. Neste dia percorremos 754 Km.
Na manhã do dia 10 de dezembro, nosso nono dia de viagem, saímos de Presidencia Roque Sáenz Peña em torno das 8:00 horas da manhã com destino à cidade de Santo Tome, na fronteira da Argentina com o Brasil. No caminho pegamos a primeira chuva da viagem, em quase todo o trajeto de 168 Km até a cidade de Resistencia.
Continuamos a viagem pela RN 12 após passarmos por Corrientes por mais 260 Km até chegarmos no acesso à RN 120, à direita da via, na localidade de Puerto Valle. Ainda no caminho pela RN 12 paramos para abastecer em um posto de gasolina na localidade de Ita Ibate, o único local no interior da Argentina que encontramos atendentes mal humorados e antipáticos. Seguimos pela RN 120 por cerca de 57 Km até a RN 14, andando mais 74 Km até chegarmos em Santo Tome, em torno das 17:30 horas. No trajeto pela RN 120 fomos pegos por um temporal intenso, porém sem impedir a pilotagem.
Na entrada da cidade de Santo Tome paramos para fotografarmos um monumento com uma cruz missioneira. No local estava um casal de jovens, aos quais solicitamos informações sobre a cidade e sugestões de hotéis. Estavam em uma scooter e, após uma breve conversa e nossa sessão de fotos, nos conduziram ao centro da cidade e nos levaram a dois diferentes hotéis para que pudéssemos escolher onde ficar. Em pouco tempo nos tornávamos amigos destes jovens muito simpáticos e atenciosos chamados Paulo e Vickyy. Tenho certeza que foi mais uma amizade que surgiu na estrada e que se perpetuará.
Santo Tome está localizada no nordeste da Argentina, na província de Corrientes, na margem direita do rio Uruguai, fazendo fronteira com o Brasil estando, no lado oposto do rio, a cidade brasileira de São Borja, no estado do Rio Grande do Sul. Segundo dados do ano de 2010, a população é de quase 26.000 habitantes. A cidade foi fundada no século XVII por padres jesuítas.
Ficamos hospedados no Condado Hotel Casino (Calle Patrico Bertran, 1050), um hotel cassino de muito boa qualidade, com toda infraestrutura e com preço bastante barato. Mais tarde jantamos em uma churrascaria localizada junto à praça da cidade, de propriedade de um brasileiro. A cidade é bastante agradável, mantendo o hábito das famílias do interior argentino de frequentarem as ruas e praças durante a noite. Ao retornarmos para o hotel, após gastarmos alguns pesos no cassino, fomos dormir. Neste dia rodamos 591 Km.
Na manhã seguinte partimos em direção ao Brasil, retornando ao nosso país pela cidade de São Borja. Saímos de Santo Tome em torno das 11:00 horas da manhã, horário argentino, através da RN 121. A distância entre as duas cidades é de apenas 16 Km.
Após uma parada em São Borja para abastecer as motos e a nós, seguimos em direção a São Miguel das Missões pela BR 285 por 148 Km até a RS 536, que leva à cidade de São Miguel. O trecho nessa rodovia é de apenas 16 Km.
Chegando em São Miguel fomos buscar hospedagem em uma pousada na qual eu já havia ficado no ano de 2015, quando lá estive com o grupo dos 100, cuja viagem já foi descrita aqui no blog. A Pousada das Missões fica muito próximo às ruínas jesuíticas, sendo possível ir a pé até o sítio arqueológico, sendo um local muito agradável. Na outra vez que visitei as ruínas havia um museu junto ao sítio arqueológico, com peças sacras feitas em madeira pelos índios na época das missões. Este museu foi destruído por um temporal ocorrido em abril de 2016 e hoje aguarda toda a burocracia necessária para ser restaurado. No relato da viagem que fiz em maio de 2015 está descrito a história da redução de São Miguel das Missões. O espetáculo de som e luzes foi reformulado, utilizando uma melhor tecnologia daquela que havíamos participado em maio de 2015. Neste penúltimo dia da Expedição 2016 rodamos apenas 185 Km.
Finalmente chegou o último dia de nossa viagem. Para mim é o mais triste e, paradoxalmente, o mais feliz. O mais triste por estarmos terminando a viagem e termos que retornar a nossa rotina. Estar sobre a moto em locais desconhecidos e participando da natureza é algo que não queremos que termine. Ao mesmo tempo, concluir nossa jornada e poder retornar para o convívio das pessoas que amamos nos enche de muita alegria. Esta é a manhã do dia 12 de dezembro de 2016, 11º dia de viagem.
Partimos de São Miguel das Missões em torno das 9 horas da manhã, pela RS 536 até a BR 285 e seguindo por esta estrada por 67 Km até a cidade de Ijuí. Neste ponto se acessa a rodovia RS 342 por cerca de 45 Km até a cidade de Cruz Alta. Após Cruz Alta, continuamos pela RS 223 por mais 78 Km até a localidade de Tapera, onde entramos na RS 332, seguindo por mais 56 Km até chegarmos na BR 386, na altura da cidade de Soledade. Entrando na BR 386 seguimos até a BR 448 (Rodovia do Parque) por 191 Km, já na região metropolitana de Porto Alegre. Entrando na BR 448 se percorre 12 Km até chegarmos na BR 290, que nos leva por cerca de 7 Km até a cidade de Porto Alegre.
Chegamos em casa em torno das 17:00 h, com 494 Km rodados neste dia e 4.858 Km rodados nestes 11 dias de estrada. Meu amigo Jorge ainda seguiu viagem para Pinheiro Machado dois dias após nossa chegada em Porto Alegre, ultrapassando os 5.000 Km de estradas.
Nesta viagem optamos por evitarmos o uso de cartões de crédito, deixando este recurso para alguma situação emergencial. Fizemos um cálculo aproximado de quanto gastaríamos entre combustível, alimentação, hospedagem e uma previsão de gastos extras. Com certeza foi a melhor opção para custear a viagem. Calculamos separadamente quanto gastaríamos na Argentina e no Chile, levando a maior parte do valor em moeda local e o restante em dólares. No Chile, como a moeda é muito desvalorizada, é necessário um volume maior de cédulas para que se tenha algum poder de compra. Nesse caso, optamos por levarmos metade do valor previsto a ser gasto no Chile em pesos chilenos e a outra metade em dólares, sendo o câmbio feito com muita facilidade em San Pedro do Atacama.
Em relação à hospedagem, optamos por não fazer reservas antecipadas deixando a escolha do hotel para o momento em que chegávamos na cidade de destino naquele dia. Escolhemos esta forma para que não ficássemos obrigados a cumprir rigidamente nosso roteiro pois, caso encontrássemos algum local onde gostaríamos de permanecer por mais tempo ou na eventualidade de alguma intercorrência na estrada que levasse a  algum atraso, perderíamos as reservas feitas levando a um custo maior.  É um pouco  mais trabalhoso e se corre o risco de fazer uma má escolha, pois quando chegamos na cidade de destino no fim do dia estamos muito cansados e querendo logo um banho e um local para relaxar. De qualquer forma, não tivemos maiores problemas para encontrarmos lugares adequados, com exceção de Purmamaca onde o local em que ficamos deixou muito a desejar, porém compensado pelo baixo custo e a simpatia da família que nos hospedou. O único local onde fizemos reserva de hotel foi em San Pedro de Atacama. Também ali foi o único momento em que efetuamos o pagamento com cartão de crédito.
Quanto ao combustível utilizado, não tivemos nenhum problema de abastecimento. Embora a quantidade de postos de gasolina sejam bem menores nas estradas argentinas do que estamos habituados no Brasil, as distâncias entre eles não chegam a comprometer nosso abastecimento. Seguimos o plano de abastecimento e descanso a cada 150 a 200 Km, com pequenas variações. Eu ainda havia levado um galão com 5 litros de gasolina extra, que não foi necessário utilizar.
A documentação necessária para entrar na Argentina é a Carteira de Identidade / RG (não é aceito identidade profissional) ou passaporte (este último facilita a imigração), a Carta Verde, que é um seguro obrigatório que pode ser feito por qualquer corretor de seguros ou na agência bancária onde tenha conta corrente, e o licenciamento da moto. A Carta Verde deve estar no nome do proprietário legal do veículo, ou seja, no nome da pessoa que consta no licenciamento. Este seguro não tem validade no Chile. Caso a moto esteja financiada ou alienada a consórcio, deve ter a liberação do agente financeiro para que possa circular fora do Brasil. Quando a moto não estiver em nome do condutor, também é necessário a autorização do proprietário legal. É importante saber se o seu seguro da moto é válido para o MERCOSUL. Caso contrário, se deve fazer a extensão para os países onde irá viajar. A documentação para entrar no Chile é a mesma da Argentina, com exceção a da Carta Verde, que é substituída pelo SOAPEX, um seguro pessoal específico para o país e com cobertura para acidentes com veículos estrangeiros envolvendo terceiros, sem cobertura para danos materiais. Em momento algum nos solicitaram o SOAPEX em nenhuma das duas viagens que fizemos ao Chile porém, em caso de acidente com danos pessoais dentro do território chileno, a falta deste seguro causará um grande problema. Para emitir o seguro se deve acessar o site http://www.magallanes.cl e preencher os dados da moto. Na página principal clique em “Seguro obrigatório para vehiculos estrangeros”- “contrate aqui”. Será solicitado a “Patente” (placa do veículo), “Tipo do Vehiculo”(motocicleta), o Número do Motor (não é o chassi) e o ano da moto. Apos deverá efetuar o pagamento (em torno de US$ 15,00 para cerca de 10 dias de viagem) com cartão de crédito internacional. Algumas vezes não se consegue fazer a contratação, que somente pode ser on line. Nesse caso é recomendável insistir até que se consiga. Alguns sites detalham a cobertura do SOAPEX, como o do Ministério dos Transportes e Telecomunicaciones do Chile (http://www.mtt.gob.cl/soap-vehiculos-extranjeros.html).
Intencionalmente deixo para o final minha impressão sobre o povo argentino. Esta foi minha terceira viagem de moto pelo interior daquele país e cada vez mais reforço minha impressão em relação à atenção e simpatia dos argentinos. Em todos os lugares onde paramos fomos muito bem recebidos, com diversas pessoas vindo conversar conosco, querendo saber sobre nós,  nossa viagem e nossas motos. Fizemos diversas amizades no caminho por onde passamos e que levaremos em nossos corações. A eterna rivalidade enrtre Brasil e Argentina fica clara ser um dos maiores equívocos. Os argentinos nos fazem sentir em casa. O curioso é a unanimidade deles em relação aos habitantes da capital, Buenos Aires. As pessoas em todos os lugares por onde passamos fazem questão de afirmar que o povo do interior são os verdadeiros argentinos e não os “portenhos”, ou seja, os moradores de Buenos Aires pelos quais nutrem uma clara antipatia. No Chile também fomos muito bem recebidos, reforçando a impressão que tivemos quando estivemos em Santiago, Valparaiso e Viña del Mar, na Expedição 2015.
Nossa viagem ao Deserto do Atacama foi um encontro com a natureza. Os lugares por onde passamos nos fez ver vida onde aparentemente não há vida. Os sons do silêncio do deserto ecoam em nossos ouvidos em uma sinfonia que é um ode à natureza, com um visual repleto de rara beleza e uma energia intensa. Estar no deserto não é estar só. Estar no deserto é estar em perfeita comunhão com a vida que ali existe a qual se percebe mais com a alma do que com os olhos.


Saída de Porto Alegre

Encontro com Jorge em Santa Maria

Primeiro encontro com os Vagais

Motociclistas argentinos na balsa, em Porto Xavier

Escultura ao herói missioneiro índio Andres Gaçurari - Costanera de Posadas

Costanera - Posadas

Costanera - Posadas

Encontro com motociclistas argentinos, na estrada.

RN 12

Presidencia Roque Sáenz Peña

Na estrada

Segundo encontro com os Vagais

Marcos

Em San Salvador de Jujuy

Na estrada

Jorge

Cordilheira dos Andes, na Argentina

Salar Salinas Grandes, Argentina

Salar Salinas Grandes, Argentina

Com os Vagais e motociclistas argentinos em Salar Salinas Grandes, Argentina

Salar Salinas Grandes, Argentina

Salar Salinas Grandes, Argentina

RN 52, Argentina

Susques, Argentina

Susques, Argentina

Interior do restaurante Pastos Chicos em Susques

Susques

Paso de Jama - Fronteira da Argentina com o Chile

Na estrada - Ruta 27, no Chile

Vulcão Lincancabur - Ruta 27 - Chile

O grupo todo com o vulcão Lincancabur ao fundo - Ruta 27 - Chile

Marcos - Ruta 27, no deserto.

Lhama às margens da Ruta 27, no Chile

San Pedro de Atacama, Chile

San Pedro de Atacama, Chile

San Pedro de Atacama, Chile

San Pedro de Atacama, Chile

Valle de la Luna

Valle de la Luna

Valle de la Luna

Gaysers de Tattio

Gaysers de Tattio

Vicunhas

Vila de Machuca, no deserto.

Vila de Machuca, no deserto

Vila de Machuca, no deserto

Deixando nosso adesivo na Vila de Machuca

Com os amigos Vagais

Com os amigos Vagais nos Geysers de Tattio

Reserva Nacional dos Flamingos

Reserva Nacional dos Flamingos


Reserva Nacional dos Flamingos
Cordilheira dos Andes, na Argentina

Na estrada

Marcos

Jorge em San Pedro de Atacama

Na estrada

Junto ao vulcão Lincancabur, Ruta 27.

Cactus

Purmamarca, Argentina

Cerro de los Siete Colores, Purmamarca, Argentina

Purmamarca, Argentina

Igreja - Purmamarca, Argentina

Purmamarca, Argentina

Purmamarca, Argentina

Purmamarca à noite, Argentina

Na estrada. RN 9, entre Purmamarca e San Salvador de Jujuy

Santo Tome, Argentina

Em Santo Tome, com Paulo e Vickyy

Santo Tome, Argentina

Santo Tome,  Argentina

Chegando no Brasil.

São Miguel das Missões, RS, Brasil

Ruínas de São Miguel das Missões

Ruínas de São Miguel das Missões

Ruínas de São Miguel das Missões

Jantar em comemoração pelo fim da Expedição 2016.



Roteiro