quarta-feira, 5 de junho de 2019

Rio Pardo





Marcos André. Triumph Tiger Explorer 1200 XCX
Humberto Gassen: Triumph Tiger Explorer 1200 XCA

Sábado, dia 01 de junho de 2019.
Saímos de porto Alegre em torno do meio-dia com destino à cidade de Rio Pardo. Seguimos pela BR 290, paralelo à BR 116, no sentido sul por cerca de 14 Km em um trajeto duplicado, quando a rodovia se desvia para oeste. Continuamos pela BR 290 por mais 108 Km até o município de Pantano Grande onde, em uma rotatória, se acessa a ERS 471 à direita da via. Pela ERS 471 se percorre mais 24 Km até a entrada da cidade de Rio Pardo. No caminho pela BR 290, no município de Butiá, paramos para almoçar no restaurante Santo Antônio, na margem direita da estrada. O local é simples porém agradável e com preço justo. O atendimento é bastante cortês por parte das garçonetes assim com uma grande simpatia do proprietário, que fica no caixa. Em especial, o feijão é muito saboroso. Exceção é feita pela senhora que serve os grelhados que, naquele dia, estava um tanto mau humorada.
Rio Pardo está localizado no Pampa Gaúcho e intimamente ligada à criação do Estado do Rio Grande do Sul. Inicialmente fazia parte do território dos índios Tapes. No século XVIII, portugueses e espanhóis disputavam as terras da região devido à grande quantidade de gado nos campos do Rio Grande do Sul e ao comércio pelo Rio da Prata. Na tentativa de resolver esse embate, em 1750 Espanha e Portugal assinaram o Tratado de Madri e em 1752 Portugal constrói o Forte Jesus, Maria e José, às margens do Rio Jacuí em sua confluência com o Rio Pardo, como forma de defesa contra possíveis ataques espanhóis. A população da região passou a se agrupar em torno do forte, dando origem ao que hoje é o município de Rio Pardo. Em 1761 o Tratado de Madri foi anulado e, em 1763, os espanhóis tentando retomar as terras gaúchas já de domínio dos portugueses, tomaram a Colônia do Sacramento, no Uruguai, e Rio Grande. Ao tentar tomar Rio Pardo para reconquistar toda a Capitania de São Pedro, não conseguiram tomar o forte, obrigando-os a recuar o que fez com que o lugar ficasse conhecido como Tranqueira Invicta, sendo esse o lema da cidade nos dias de hoje. Em 1809 Portugal fez a primeira divisão administrativa do Rio Grande do Sul, criando as quatro primeiras vilas: Rio Grande, Santo Antônio da Patrulha, Porto Alegre e Rio Pardo, esta última a maior delas ocupando três quartos de todo o território, sendo o centro comercial e econômico da região, pois todas as mercadorias passavam pelo porto de Rio Pardo. Com o surgimento das ferrovias, houve uma descentralização econômica, pois surgiram novos municípios que não dependiam do rio para transporte. Mais tarde, com o surgimento das rodovias e fim das ferrovias, Rio Pardo caiu ainda mais. O município conta hoje com uma população aproximada de 40 mil habitantes.
Chegamos em Rio Pardo em torno das 15 horas. O primeiro local que paramos foi na rua Júlio de Castilhos, também conhecida como Rua da Ladeira. Esta foi a primeira rua calçada no Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1813 e ligava o antigo Forte de Jesus, Maria e José ao centro da cidade. Ainda hoje conserva o calçamento com pedras irregulares, características da época. Sua construção foi feita por escravos com pedras retiradas do rio Jacuí e inspirada na Via Appia Romana, com escoamento de água por sua parte central.  Foi tombada em 1954 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). As construções ao longo do pequeno trajeto, assim como diversos prédios da cidade, nos remetem ao século XIX.
Seguindo pela Rua Júlio de Castilhos, já em um trajeto com calçamento em paralelepídedos atuais, cerca de 400 metros abaixo está a Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário. A igreja teve sua construção iniciada em 1769 e sua inauguração se deu dez anos depois, sendo totalmente concluída somente no ano de 1885. No seu interior estão os restos mortais de Joaquim Andrade Neves, o Barão do Triunfo.  
Após, fomos em busca da Praia dos Ingazeiros, um balneário às margens do Rio Jacuí. Com as recentes cheias, o rio está com o nível bastante elevado, cobrindo boa parte das construções em suas margens, porém não perdendo a beleza do lugar.
Cerca de 600 metros adiante da Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, na atual rua Coronel Francisco Alves, estava localizado o Forte Jesus, Maria e José. Hoje é a sede da CORSAN (Companhia Riograndense de Saneamento), não restando qualquer construção que remeta àquela fortificação, exceto por três canhões voltados em direção ao Rio Jacuí, além de um pequeno monumento onde o desenho do forte está esculpido em pedra de forma quase não visível devido à falta de manutenção e outro, marcado por uma Cruz Missioneira e uma lápide, identificando o local da morte de um dos heróis da batalha contra os espanhóis e a prisão de Sepé Tiaraju, A fortaleza foi construída em função do Tratado de Madri que definia as fronteiras entre os domínios portugueses e espanhóis no Rio Grande do Sul. Em torno dela se iniciou o povoado de Rio Pardo e de grande parte do Estado.
Seguindo nosso passeio pela cidade e seus pontos históricos, fomos até o Museu Histórico Municipal Barão de Santo Ângelo, situado na rua Almirante Alexandrino, número 1096. A construção de arquitetura colonial data do ano de 1790, construída em barro e madeira. Foi o local de nascimento do Almirante Alexandrino de Alencar, militar que promoveu a reforma da Marinha do Brasil, assim como foi residência de antepassados do ex-presidente Castelo Branco. Hoje o museu se encontra fechado à visitação. Fomos informados por uma moradora local que o acervo foi furtado em sua grande parte e o interior do prédio está bastante deteriorado.
Próximo ao museu, subindo a rua São Francisco, está a igreja São Francisco de Assis, uma das mais antigas do Rio Grande do Sul. Foi construída em 1802 pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis. Conta-se que a filha de um militar graduado se apaixonou por um soldado. O pai, contrariado com aquele amor, transferiu o soldado para longe. Com isso, a filha fez greve de fome entrando em grave estado de desnutrição. Com o agravo do quadro da filha seu pai autorizou o casamento, porém na data marcada, devido ao grande estado de fraqueza da noiva, esta não conseguiu forças para chegar ao altar, falecendo subindo os degraus da Igreja. No altar tem uma santa vestida de noiva e é costume na cidade as noivas que ali casam doarem seus vestidos para vestirem a santa.
Distante menos de 1,5 Km da Igreja São Francisco está a Estação Férrea de Rio Pardo. A estação foi inaugurada em 1883 pela Estrada de Ferro Porto Alegre – Uruguaiana. O prédio ficou abandonado após o término das linhas de trem. Ao lado estão os restos do armazém que incendiou no ano de 2017, restando atualmente apenas as paredes. Na época de sua construção se discutiu a possibilidade de ser a primeira estação da ferrovia, já que o transporte para a capital se dava por via fluvial através do Rio Jacuí. Santo Amaro, por ser mais próxima à capital, se tornou a estação inicial. O prédio foi restaurado e, em 2012, passou a ser sede da Secretaria de Cultura e Turismo. Hoje encontra-se novamente abandonado.
Na principal rua do centro da cidade, a Rua Andrade Neves, está localizada a Casa de Cultura de Rio Pardo. Sua construção se deu entre os anos de 1848 e 1882, com o propósito de ser uma casa de caridade. Dois anos após construído, foi cedido às tropas do Império, passando a ser Escola Militar. Nesta estudaram personalidades como Eurico Gaspar Dutra e Getúlio Vargas. Em 1983 o prédio foi tombado pelo IPHAE (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande d Sul).
Ao lado da Casa de Cultura está a Igreja Senhor dos Passos, construída em 1815, para abrigar a imagem do “Divino Senhor” que estava guardada sob uma das torres da Igreja Matriz que se achava em obras.
O término do nosso passeio por Rio Pardo foi em uma cafeteria sensacional chamada Café Sabor & Arte, localizada na mesma rua Andrade Neves, bem próxima à Casa de Cultura. O ambiente é excelente, com diversos tipos de cafés. O local estava bastante movimentado, dando a sensação de ser o principal ponto de confraternização da pequena cidade.
Saímos de Rio Pardo já à noite, pela ERS 471 em direção à cidade de Santa Cruz do Sul, distante 36 Km. Neste ponto entramos na RS 287 por mais 77 Km até o cruzamento com a BR 386, na localidade de Tabaí. Seguimos pela BR 386 (esta duplicada) por mais 53 Km até o acesso à BR 448, rodovia do Parque. Por esta via, com três pistas de cada lado no trajeto até a BR 290, andamos por mais 12 Km e mais 6 Km até a entrada de Porto Alegre.
Todo o trajeto foi por rodovias pavimentadas, em estado de conservação razoável. Na BR 386, a pista da direita é bastante irregular em diversos trechos devido ao grande fluxo de veículos pesados que causam danos ao asfalto.
Chegamos em casa em torno das 21 horas, com 359,4 Km rodados de um passeio repleto de história e cultura. Lamentável é ver o descaso do município de Rio Pardo com a preciosidade histórica lá contida, permitindo a destruição do Museu Municipal, da Estação Férrea e das diversas construções históricas abandonadas e em péssimo estado. É verdade que muitos prédios antigos ainda persistem bem conservados, o que não justifica o abandono dos demais, que estão se perdendo no tempo e levando consigo sua preciosa história.


Rua da Ladeira

Rua da Ladeira

Rua da Ladeira - Humberto

Rua da Ladeira

Matriz Nossa Senhora do Rosário





Praia dos Ingazeiros

Praia dos Ingazeiros


Canhões do Forte Jesus, Maria e José. Atualmente sede da CORSAN

Construção colonial
Construção colonial

Museu Histórico Municioal Barão de Santo Ângelo
Construção antiga em estado de deterioração



Igreja São Francisco de Assis



Restos do armazém da Estação Férrea

Estação Férrea 

Estação Férrea

Estação Férrea


Estação Férrea - Marcos

Casa de Cultura

Igreja Senhor dos Passos

Mais uma construção antiga em estado de grande depreciação
Rota dentro da cidade, passando pelos pontos visitados.
https://goo.gl/maps/o5iVkmZm8YS4j9CLA 

Rota do passeio
https://goo.gl/maps/9818oXuTw7U19toGA