Marcos André. Triumph Tiger Explorer
1200 XCX
Humberto Gassen: Triumph Tiger
Explorer 1200 XCA
Sábado, dia 01 de junho de 2019.
Saímos de porto Alegre em torno do
meio-dia com destino à cidade de Rio Pardo. Seguimos pela BR 290, paralelo à BR 116, no
sentido sul por cerca de 14 Km em um trajeto duplicado, quando a rodovia se
desvia para oeste. Continuamos pela BR 290 por mais 108 Km até o município de
Pantano Grande onde, em uma rotatória, se acessa a ERS 471 à direita da via.
Pela ERS 471 se percorre mais 24 Km até a entrada da cidade de Rio Pardo. No
caminho pela BR 290, no município de Butiá, paramos para almoçar no restaurante
Santo Antônio, na margem direita da estrada. O local é simples porém agradável
e com preço justo. O atendimento é bastante cortês por parte das garçonetes
assim com uma grande simpatia do proprietário, que fica no caixa. Em especial,
o feijão é muito saboroso. Exceção é feita pela senhora que serve os grelhados
que, naquele dia, estava um tanto mau humorada.
Rio Pardo está localizado no Pampa
Gaúcho e intimamente ligada à criação do Estado do Rio Grande do Sul. Inicialmente
fazia parte do território dos índios Tapes. No século XVIII, portugueses e
espanhóis disputavam as terras da região devido à grande quantidade de gado nos
campos do Rio Grande do Sul e ao comércio pelo Rio da Prata. Na tentativa de
resolver esse embate, em 1750 Espanha e Portugal assinaram o Tratado de Madri e
em 1752 Portugal constrói o Forte Jesus, Maria e José, às margens do Rio Jacuí
em sua confluência com o Rio Pardo, como forma de defesa contra possíveis
ataques espanhóis. A população da região passou a se agrupar em torno do forte,
dando origem ao que hoje é o município de Rio Pardo. Em 1761 o Tratado de Madri
foi anulado e, em 1763, os espanhóis tentando retomar as terras gaúchas já de
domínio dos portugueses, tomaram a Colônia do Sacramento, no Uruguai, e Rio
Grande. Ao tentar tomar Rio Pardo para reconquistar toda a Capitania de São
Pedro, não conseguiram tomar o forte, obrigando-os a recuar o que fez com que o
lugar ficasse conhecido como Tranqueira
Invicta, sendo esse o lema da cidade nos dias de hoje. Em 1809 Portugal fez
a primeira divisão administrativa do Rio Grande do Sul, criando as quatro
primeiras vilas: Rio Grande, Santo Antônio da Patrulha, Porto Alegre e Rio
Pardo, esta última a maior delas ocupando três quartos de todo o território,
sendo o centro comercial e econômico da região, pois todas as mercadorias
passavam pelo porto de Rio Pardo. Com o surgimento das ferrovias, houve uma
descentralização econômica, pois surgiram novos municípios que não dependiam do
rio para transporte. Mais tarde, com o surgimento das rodovias e fim das
ferrovias, Rio Pardo caiu ainda mais. O município conta hoje com uma população
aproximada de 40 mil habitantes.
Chegamos em Rio Pardo em torno das 15
horas. O primeiro local que paramos foi na rua Júlio de Castilhos, também
conhecida como Rua da Ladeira. Esta foi a primeira rua calçada no Estado do Rio
Grande do Sul, no ano de 1813 e ligava o antigo Forte de Jesus, Maria e José ao
centro da cidade. Ainda hoje conserva o calçamento com pedras irregulares,
características da época. Sua construção foi feita por escravos com pedras
retiradas do rio Jacuí e inspirada na Via Appia Romana, com escoamento de água
por sua parte central. Foi tombada em
1954 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). As
construções ao longo do pequeno trajeto, assim como diversos prédios da cidade,
nos remetem ao século XIX.
Seguindo pela Rua Júlio de Castilhos,
já em um trajeto com calçamento em paralelepídedos atuais, cerca de 400 metros
abaixo está a Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário. A igreja teve sua
construção iniciada em 1769 e sua inauguração se deu dez anos depois, sendo
totalmente concluída somente no ano de 1885. No seu interior estão os restos
mortais de Joaquim Andrade Neves, o Barão do Triunfo.
Após, fomos em busca da Praia dos
Ingazeiros, um balneário às margens do Rio Jacuí. Com as recentes cheias, o rio
está com o nível bastante elevado, cobrindo boa parte das construções em suas
margens, porém não perdendo a beleza do lugar.
Cerca de 600 metros adiante da Igreja
Matriz Nossa Senhora do Rosário, na atual rua Coronel Francisco Alves, estava localizado
o Forte Jesus, Maria e José. Hoje é a sede da CORSAN (Companhia Riograndense de
Saneamento), não restando qualquer construção que remeta àquela fortificação,
exceto por três canhões voltados em direção ao Rio Jacuí, além de um pequeno
monumento onde o desenho do forte está esculpido em pedra de forma quase não
visível devido à falta de manutenção e outro, marcado por uma Cruz Missioneira
e uma lápide, identificando o local da morte de um dos heróis da batalha contra
os espanhóis e a prisão de Sepé Tiaraju, A fortaleza foi construída em função
do Tratado de Madri que definia as fronteiras entre os domínios portugueses e
espanhóis no Rio Grande do Sul. Em torno dela se iniciou o povoado de Rio Pardo
e de grande parte do Estado.
Seguindo nosso passeio pela cidade e
seus pontos históricos, fomos até o Museu Histórico Municipal Barão de Santo
Ângelo, situado na rua Almirante Alexandrino, número 1096. A construção de
arquitetura colonial data do ano de 1790, construída em barro e madeira. Foi o
local de nascimento do Almirante Alexandrino de Alencar, militar que promoveu a
reforma da Marinha do Brasil, assim como foi residência de antepassados do ex-presidente
Castelo Branco. Hoje o museu se encontra fechado à visitação. Fomos informados
por uma moradora local que o acervo foi furtado em sua grande parte e o interior
do prédio está bastante deteriorado.
Próximo ao museu, subindo a rua São
Francisco, está a igreja São Francisco de Assis, uma das mais antigas do Rio
Grande do Sul. Foi construída em 1802 pela Ordem Terceira de São Francisco de
Assis. Conta-se que a filha de um militar graduado se apaixonou por um soldado.
O pai, contrariado com aquele amor, transferiu o soldado para longe. Com isso,
a filha fez greve de fome entrando em grave estado de desnutrição. Com o agravo
do quadro da filha seu pai autorizou o casamento, porém na data marcada, devido
ao grande estado de fraqueza da noiva, esta não conseguiu forças para chegar ao
altar, falecendo subindo os degraus da Igreja. No altar tem uma santa vestida
de noiva e é costume na cidade as noivas que ali casam doarem seus vestidos
para vestirem a santa.
Distante menos de 1,5 Km da Igreja São
Francisco está a Estação Férrea de Rio Pardo. A estação foi inaugurada em 1883
pela Estrada de Ferro Porto Alegre – Uruguaiana. O prédio ficou abandonado após
o término das linhas de trem. Ao lado estão os restos do armazém que incendiou
no ano de 2017, restando atualmente apenas as paredes. Na época de sua
construção se discutiu a possibilidade de ser a primeira estação da ferrovia,
já que o transporte para a capital se dava por via fluvial através do Rio
Jacuí. Santo Amaro, por ser mais próxima à capital, se tornou a estação inicial.
O prédio foi restaurado e, em 2012, passou a ser sede da Secretaria de Cultura
e Turismo. Hoje encontra-se novamente abandonado.
Na principal rua do centro da cidade, a
Rua Andrade Neves, está localizada a Casa de Cultura de Rio Pardo. Sua
construção se deu entre os anos de 1848 e 1882, com o propósito de ser uma casa
de caridade. Dois anos após construído, foi cedido às tropas do Império,
passando a ser Escola Militar. Nesta estudaram personalidades como Eurico
Gaspar Dutra e Getúlio Vargas. Em 1983 o prédio foi tombado pelo IPHAE
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande d Sul).
Ao lado da Casa de Cultura está a
Igreja Senhor dos Passos, construída em 1815, para abrigar a imagem do “Divino
Senhor” que estava guardada sob uma das torres da Igreja Matriz que se achava
em obras.
O término do nosso passeio por Rio
Pardo foi em uma cafeteria sensacional chamada Café Sabor & Arte,
localizada na mesma rua Andrade Neves, bem próxima à Casa de Cultura. O
ambiente é excelente, com diversos tipos de cafés. O local estava bastante
movimentado, dando a sensação de ser o principal ponto de confraternização da
pequena cidade.
Saímos de Rio Pardo já à noite, pela
ERS 471 em direção à cidade de Santa Cruz do Sul, distante 36 Km. Neste ponto
entramos na RS 287 por mais 77 Km até o cruzamento com a BR 386, na localidade
de Tabaí. Seguimos pela BR 386 (esta duplicada) por mais 53 Km até o acesso à
BR 448, rodovia do Parque. Por esta via, com três pistas de cada lado no
trajeto até a BR 290, andamos por mais 12 Km e mais 6 Km até a entrada de Porto
Alegre.
Todo o trajeto foi por rodovias
pavimentadas, em estado de conservação razoável. Na BR 386, a pista da direita
é bastante irregular em diversos trechos devido ao grande fluxo de veículos
pesados que causam danos ao asfalto.
Chegamos em casa em torno das 21 horas,
com 359,4 Km rodados de um passeio repleto de história e cultura. Lamentável é
ver o descaso do município de Rio Pardo com a preciosidade histórica lá
contida, permitindo a destruição do Museu Municipal, da Estação Férrea e das
diversas construções históricas abandonadas e em péssimo estado. É verdade que
muitos prédios antigos ainda persistem bem conservados, o que não justifica o abandono
dos demais, que estão se perdendo no tempo e levando consigo sua preciosa
história.
|
Rua da Ladeira |
|
Rua da Ladeira |
|
Rua da Ladeira - Humberto |
|
Rua da Ladeira |
|
Matriz Nossa Senhora do Rosário |
|
Praia dos Ingazeiros |
|
Praia dos Ingazeiros |
|
Canhões do Forte Jesus, Maria e José. Atualmente sede da CORSAN |
|
Construção colonial |
|
Construção colonial |
|
Museu Histórico Municioal Barão de Santo Ângelo |
|
Construção antiga em estado de deterioração |
|
Igreja São Francisco de Assis |
|
Restos do armazém da Estação Férrea |
|
Estação Férrea |
|
Estação Férrea |
|
Estação Férrea |
|
Estação Férrea - Marcos |
|
Casa de Cultura |
|
Igreja Senhor dos Passos |
|
Mais uma construção antiga em estado de grande depreciação |
|
Rota dentro da cidade, passando pelos pontos visitados. https://goo.gl/maps/o5iVkmZm8YS4j9CLA |
|
Rota do passeio https://goo.gl/maps/9818oXuTw7U19toGA |
Nenhum comentário:
Postar um comentário