A
Sexta-feira, dia 3 de abril de 2015.
Saída de Porto Alegre às 8:43 horas,
desta vez só. Apenas eu e minha NC 700 X. Saí pela ponte sobre o lago Guaíba em
direção sul, acessando a BR 290 e a BR 116, com destino à Pelotas, pelo mesmo
trajeto já descrito na postagem sobre o 18º Moto Lagoa. Desta vez minha
primeira parada foi no Paradouro Coqueiro, no Km 453 da BR 116, no município de
São Lourenço do Sul, a cerca de 184 Km de Porto Alegre. Por se tartar de uma
sexta-feira Santa, primeiro dia do feriadão de Páscoa, a estrada estava muito
movimentada. Cheguei em Pelotas no final da manhã, com exatos 261,7 Km rodados.
Durante a tarde apenas descansei e,
à noite, acompanhado da amiga e colega Andréa, fui ao restaurante Madre Mia, um local fantástico e que reúne
arte e gastronomia relacionados à cultura hispânica. O atendimento é
espetacular e vale à pena as cervejas diversas. Caso deseje experimentar um
pouco de cada cerveja, a dica é pedir um combo, que vem com três copos com diferentes
tipos de cerveja a sua escolha, por R$ 25,00.
No dia seguinte, 04 de abril, à
tarde, fui fazer a rota das charqueadas. Para se chegar lá segui pela Av. Bento
Gonçalves até a Av. Ferreira Viana dobrando à esquerda na Av. São Francisco de
Paula e, à direita na Av. Domingos de Almeida, seguindo até o fim onde a
sinalização nos facilita muito a chegada.
As charqueadas eram fazendas produtoras de charque, uma forma de conservar a carne do gado com sal. No século XVIII, com a expulsão dos espanhóis que viviam no sul do Brasil, ficaram por estas terras um grande número de cabeças de gado que, com a intensa procriação, formaram um grande rebanho selvagem. Nesta mesma época, a conservação da carne com sal era exclusividade do nordeste do Brasil porém, com a seca no nordeste, grande parte do rebanho bovino de lá foi perdido. No ano de 1777, o português José Pinto Martins, morador do Ceará, sabedor deste grande rebanho bovino existente no sul do país, resolve ali se instalar chegando, inicialmente, na atual cidade do Rio Grande, litoral sul do Rio Grande do Sul. Devido ao constante e intenso vento da região associado à areia da praia, a produção do charque se tornou inviável, o que fez com que ele procurasse um local onde não houvesse aquelas condições climáticas e, ao mesmo tempo, fosse possível o escoamento da produção do charque para o resto do país. Estas condições encontrou na Freguesia de São Francisco de Paula, às margens do arroio Pelotas, hoje cidade de Pelotas. Ali instalou a primeira charqueada da região. O arroio Pelotas se liga ao canal São Gonçalo, que faz a união entre a Lagoa dos Patos e a Lagoa Mirim. A Lagoa dos Patos desemboca no Oceano Atlântico, na barra do Rio Grande, no municípo do mesmo nome. Por ali era escoada a produção do charque de Pelotas para o restante do Brasil.
Trajeto em Pelotas até a Rota das Charqueadas |
As charqueadas eram fazendas produtoras de charque, uma forma de conservar a carne do gado com sal. No século XVIII, com a expulsão dos espanhóis que viviam no sul do Brasil, ficaram por estas terras um grande número de cabeças de gado que, com a intensa procriação, formaram um grande rebanho selvagem. Nesta mesma época, a conservação da carne com sal era exclusividade do nordeste do Brasil porém, com a seca no nordeste, grande parte do rebanho bovino de lá foi perdido. No ano de 1777, o português José Pinto Martins, morador do Ceará, sabedor deste grande rebanho bovino existente no sul do país, resolve ali se instalar chegando, inicialmente, na atual cidade do Rio Grande, litoral sul do Rio Grande do Sul. Devido ao constante e intenso vento da região associado à areia da praia, a produção do charque se tornou inviável, o que fez com que ele procurasse um local onde não houvesse aquelas condições climáticas e, ao mesmo tempo, fosse possível o escoamento da produção do charque para o resto do país. Estas condições encontrou na Freguesia de São Francisco de Paula, às margens do arroio Pelotas, hoje cidade de Pelotas. Ali instalou a primeira charqueada da região. O arroio Pelotas se liga ao canal São Gonçalo, que faz a união entre a Lagoa dos Patos e a Lagoa Mirim. A Lagoa dos Patos desemboca no Oceano Atlântico, na barra do Rio Grande, no municípo do mesmo nome. Por ali era escoada a produção do charque de Pelotas para o restante do Brasil.
Nas charqueadas o gado era abatido
através de uma marretada na cabeça e sangrado em um local específico. O sangue,
por sua vez, era escoado para o arroio Pelotas onde também eram depositados os
restos não aproveitados destes animais
abatidos. Por este motivo, o arroio Pelotas também ficou conhecido como Rio
Vermelho. A melhor carne era consumida pelos fazendeiros e a carne menos nobre era transformada em
charque e vendida para o resto do Brasil. Para os escravos sobrava apenas o que
não era aproveitado nem para o charque. Destes restos do gado, surgiu o prato
que conhecemos como mocotó, que era feito com restos de intestinos, estômago e
patas de vaca, sendo bastante calórico para o uso dos escravos e, logicamente,
sem os condimentos e especiarias hoje utilizados no mocotó que conhecemos.
Devido ao mau cheiro no local e às
condições insalubres, os fazendeiros levavam seu familiares para morarem longe
da sede das charqueadas, o que fez surgir um povoado que veio a ser a cidade de
Pelotas. A distância do centro da cidade até às charqueadas é de cerca de 7 Km.
Os escravos que trabalhavam nas
charqueadas tinham uma vida média de 5 a 7 anos pois, além de serem submetidos
a uma jornada extenuante de trabalho de 20 horas por dia, também eram mal
alimentados. Os mais fortes e que sabiam nadar, eram responsáveis por levar o
charque através do arroio Pelotas às outras charqueadas, em embarcações que
eram puxadas por uma corda presa à boca do escravo e levadas a nado. Estas
embarcações, de origem indígena cuja existência era anterior às charqueadas,
por terem o formato arredondado como uma bola, foram denomiadas pelota pelos
espanhóis e, devido ao grande número delas nesta região, foi originado o nome da
cidade de Pelotas. O trabalho nas charquedas era considerado o pior que poderia
ser ofertado a um escravo. Era como uma punição.
O período de produção do charque era
de novembro a abril e, no restante do ano, os escravos trabalhavam nas olarias,
produzindo telhas e tijolos. As telhas eram de barro e moldadas nas coxas dos
escravos, fazendo com que tenham formatos diferentes entre si, o que pode ser
observado nas construções ali ainda existentes. Desta forma de confeccionar
telhas é que surge a expressão “feito nas coxas”, quando nos referimos a algo
mal feito.
O auge da produção do charque se deu
no século XIX, com um total de 40 charqueadas produzindo o charque. A intensa
produção fez com que os donos das charqueadas acumulassem grande fortuna,
permitindo enviar seus filhos para estudar na Europa. Estes, ao retornarem à
Pelotas, eram feitas recepções onde os jovens eram reapresentados à sociedade.
O fato de retornarem com hábitos europeus refinados fez com que Pelotas seja
conhecida nacionalmente de forma pejorativa até os dias de hoje.
Com a abolição da escravidão os
escravos sairam das charqueadas e a mão de obra se tornou cada vez mais rara,
fazendo com que esta atividade desaparecesse. Aliado a isto, surgiram novos
processos de conservação da carne.
Das poucas charqueadas que
permanecem até os dias de hoje, apenas duas são abertas à visitação com um
maior cunho turístico. São elas a Charqueada Santa Rita e a Charqueada São
João, situadas uma ao lado da outra, as quais escolhi para visitar. As
construções ali existentes são em estilo colonial e nos remetem ao século XIX,
proporcionando uma viagem no tempo. Outra opção de conhecer a rota das
charqueadas é através de um passeio de barco pelo arroio Pelotas.
A primeira charqueada que visitei
foi a Santa Rita, construída em 1826. Era de propriedade de Inácio Rodrigues
Barcellos e contava com 30 escravos. A visita guiada sai por R$ 15,00. A casa
principal não pode ser visitada, pois os proprietários ali residem. Mesmo
assim, o passeio é muito legal. Nesta charqueada existe uma pousada construída
no local onde viviam as escravas. Nos fundos da casa principal existe um salão
de festas utilizado hoje para eventos. No século XIX era o local onde a carne
era salgada e, ainda hoje, existe uma grande concentração de sal no solo do
local, com seu efeito notado pelo desgaste do piso e pela parte baixa das
portas, bastante danificadas. O local onde era a senzala foi destruído e
soterrado. Foi nesta charqueada que se instalou a primeira fábrica de enlatados
de carne, popularmente chamada de Fábrica de Línguas. Esta atividade fez com
que a charqueada Santa Rita se mantivesse produtiva durante a decadência do
ciclo do charque. Na Charqueada Santa Rita foi gravado o filme Concerto
Campestre, lançado em 2005.
Casa principal |
Pelota |
Porta do século XVIII, com as marcas da Charqueada Santa Rita |
Saindo da charqueada Santa Rita fui
até a charqueada São João, localizada ao lado da primeira. A visita guiada sai
por R$ 20,00 por pessoa e nossa guia foi a senhora Eva, que domina com muita
propriedade a história do local. Nesta se pode conhecer a casa principal, que
está preparada para para que se possa tomar conhecimento do que ocorria na
época do auge de sua produção. Esta visita é bem mais demorada e detalhada do
que na Santa Rita, mesmo assim não tirando o valor da visita à primeira
charqueada. A Charqueada São João, construída em 1810, era de propriedade de Antônio José
Gonçalves Chaves. A residência, em estilo colonial, é térrea e com um pátio
interno. Ali vivia o proprietário com sua esposa e filhas. O pátio interno
somente poderia ser utilizado pelas mulheres à noite, pois o sol tiraria a cor
branca de sua pele, que era sinônimo de beleza da época. A casa foi construída
com diversos cômodos com diversas aberturas que os comunicam entre si. A intenção
deste tipo de construção era para confundir possíveis invasores, facilitando a
fuga dos moradores. Ainda se pode observar um grande armário embutido em uma
das paredes de uma das salas, incomum para a época, e que serve de rota de fuga
para um sótão, sendo as prateleiras utilizadas como degraus para que, em caso
de invasão, as mulheres e crianças tivessem a possibilidade de por ali fugirem.
Charqueada São João com Arroio Pelotas ao fundo |
Pátio interno da Charqueada São João |
Na Charqueada São João existe uma
grande figueira com idade presumida de 500 anos, cujas raízes já passaram sob a
casa, sendo encontradas no lado oposto da construção. Em sua última mensuração
constou um diâmetro de 40 metros na copa.
Vista a partir de um dos cômodos |
Grande figueira e parte da frente da casa principal da Charqueada São João |
Gonçalves Chaves era conhecido como
um homem extremamente culto e com domínio de diversos idiomas. Como maçon,
construiu uma pequena gruta com a imagem de São João Batista, patrono da
maçonaria. Nesta ele fazia com que os escravos rezassem, com a intenção de lhes
converter ao catolicismo. Com o tempo se descobriu que sob conchas que faziam
parte da construção, existiam pequenas imagem que poderiam ser os Orixás do
Candomblé, religião proferida pelos escravos. Enquanto ali estavam aparentemente
rezando ao santo católico, na verdade estavam em devoção aos seus Orixás.
Também se pode observar ao redor do tronco da grande figueira e ao redor do
tronco de outras árvores, construções em formato de estrela, em alusão ao
pentagrama como um dos símbolo da
maçonaria.
Em ambas charqueadas visitadas, se pode observar portas do século XVIII, onde estão gravadas as marcas destas propriedades. Eram sinais feitas com ferro em brasa que eram marcados no gado e nos escravos, para a identificacão de posse.
Gruta a São João |
Pentagrama |
A Charqueada São João ficou
nacionalmente conhecida por ali ter sido gravado as miniséries A Casa das Sete
Mulheres e O Tempo e o Vento, da Rede Globo.
Saindo da Charqueada Santa Rita
percebi que o suporte do baú da minha moto estava frouxo. Deixei para resolver
após a visita às duas charqueadas. Ao sair da São João procurei uma oficina de
motos que pudesse me ajudar a refazer a fixação. Retornando pela Av. Domingos
de Almeida encontrei uma oficina e loja de artigos de motociclismo chamada PIT STOP (Av. Domingos de Almeida, 277 –
Areal – Pelotas), de propriedade do Carlos Müller. A loja é atendida pela
esposa dele. Ao chegar lá ele estava à frente do estabelecimento fazendo um
conserto. Largou seu afazer para me atender. Constatou que houve deformidade
das placas de fixação do suporte do baú Givi, perdendo a estabilidade. Fez uma
nova fixação do suporte ao bagageiro, com muito cuidado e capricho. O Carlos é
uma cara que, em um primeiro contato, já se percebe a dedicação e atenção. Uma
oficina pequena e muito organizada. Em
uma próxima viagem de moto à Pelotas sei onde me socorrer em caso de
necessidade. O telefone dele, para quem desejar, é (53)3228.7820 e
(53)3228.0935.
Domingo de Páscoa, dia 05 de abril.
Após um maravilhoso almoço em família, saí de Pelotas em direção à Santa Maria,
às 15:20 horas. O trajeto foi pela BR 392, por uma distância de cerca de 300
Km.
A estrada passa pelos municípios de
Morro Redondo, Canguçu, Santana da Boa Vista, Caçapava do Sul e São Sepé, antes
de chegar em Santa Maria. É muito boa, com alguns poucos trechos com curvas
muito legais. Peguei um pouco de chuva no primeiro terço da viagem, o que me
obrigou a parar para colocar roupa de chuva. Uma breve parada para reabastecer
a moto com um pouco mais de 200 Km rodados. Próximo à Santa Maria, a chuva
reiniciou com mais intensidade. Para piorar, o movimento de carros na chegada à
cidade era bastante grande. Cheguei no hotel em torno das 19 horas.
Permaneci em Santa Maria na segunda
e na terça-feira, onde tenho atividade profissional. Aproveitei para trocar os
pneus da moto, pois já a NC está
com 16.000 Km, ainda com os pneus originais, já apresentando um desgaste
natural. Acho que ainda duarariam mais uns dois ou três mil quilômetros, mas
achei melhor realizar agora. Troquei por um Michelin Pilot Road 2 na Bella
Motos, no bairro Camobi, no Km 234 da ERS 287. A loja é especializada em
motocicletas, tendo junto uma oficina. Lá existem diversos acessórios para
motos e motociclistas. O atendimento é feito pelos proprietários (família
Barachini)e por funcionárias extremamente simpáticas e atenciosas. O filho do
proprietário é um cara chamado Giancarlo e que entende muito do assunto. Sem
falar que é muito atencioso e sempre disposto a ajudar seus clientes. A Bella
Motos é uma loja de extrema confiaça e que, sem dúvida, recomendo.
Saí de Santa Maria em torno das
18:45 h de terça-feira, dia 07, pela ERS 287. No caminho parei para um lanche
em um local chamado Produtos Coloniais da Terra, a cerca de 48 Km do bairro
Camobi, no Km 185 da ERS 287, no município de Agudo. O lugar é muito agradável
e com produtos muito bons. Lá se pode comer muito bem e por um preço bem
acessível, além de oferecer diversos produtos coloniais à venda. O atendimento
é feito por três moças muito simpáticas e atenciosas. É um local que vale à
pena parar. Pela ERS 287 rodei por cerca de 216 Km até a localidade de Tabaí. Esta rodovia tem duas praças de
pedágio, os quais são isentos para motos. Mesmo sendo uma estrada pedageada, as
condições deixam muito a desejar. Tem vários trechos em mau estado de
conservação, com desníveis, sem sinalização no asfalto e consertos muito
rudimentares e não terminados. Neste trajeto entre Santa Maria e Tabaí, existem
13 pardais e duas lombadas eletrônicas, o que requer muita atenção com a velocidade.
Em Tabaí, segui pela BR 386 por mais 54 Km até a BR 448 (Rodovia do Parque). Na
rodovia do Parque são mais 13 Km até a BR 290, entrando em Porto Alegre pela
Av. dos Estados, chegando em torno das 22:30 h e indo direto ao bar
Cilindradas, um bar temático de motociclismo onde, nas terças-feiras, os
companheiros do moto grupo Bodes do Asfalto se reúnem. Fui até lá para dar um abraço nos
irmãos do grupo e conversar um pouco.
Mesmo pilotando à noite, que não é
minha preferência, a viagem de volta foi muito tranquila e agradável.
Foram 928,3 Km de estrada, desde
sexta-feira, dia 03 até chegar em casa, em Porto Alegre, na noite de
terça-feira, dia 07 de abril.
Com a sua motocicleta veja qual o melhor caminho.
ResponderExcluirJá me hospedei na Santa Rita e é muito bonita. Não tive tempo de conhecer as outras, mas pelo seu relato, acho que perdi muito por não ter ido. Já anotei para a próxima ida à Pelotas. Ótimas dicas no seu post!
ResponderExcluirTati
Que excelente post ! Muito bom conhecer a história da produção do charque e de Pelotas. Parabéns ! Esse Rio Grande do Sul tem muita coisa linda ! Um abraço
ResponderExcluirQue bacana conhecer a bela história do Rio Grande, ainda mais viajando, né? Parabéns, muito bom!
ResponderExcluirNossa, anotei várias dicas e lugares pra conhecer!
ResponderExcluirMuito bom falar sobre nosso estado! :)
Parabéns Blog!
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